Toda vez que um país sem nenhuma tradição começa a produzir carros é normal surgir um sentimento de curiosidade e até mesmo de desconfiança em relação a seus produtos.
Foi assim com a Honda, que eu lembro como motivos de surpresa em Paris quando por lá apareceram com seus minúsculos Honda 360 N.
Sucessivamente, num panorama mundial, foi a vez dos sul-coreanos, que desembarcaram nos Estados Unidos e também foram olhados com absoluta desconfiança. Até que, japoneses antes e sul-coreanos depois, conseguiram provar a qualidade de seus produtos e, através disso, colocá-los de forma válida no mercado de usados. Passagem indispensável para qualquer montadora ter sucesso.
No Brasil não foi diferente. Os japoneses chegaram e convenceram, a ponto de hoje serem, em muitos casos, compras seguras. O mesmo aconteceu, anos depois, com os sul-coreanos que nos últimos tempos abocanharam interessantes fatias de mercado.
Agora é a vez das montadoras chinesas, com a JAC abrindo o caminho e sendo depois seguida por outras produtoras de veículos.
Mas ainda falta conquistar a confiança dos compradores e, conseqüentemente, manter um bom preço de revenda, sem o que montadora nenhuma consegue emplacar.
Para tirar a dúvida quanto à qualidade dos veículos chineses, conseguimos um JAC J3, modelo Turim, com quase 100 mil km rodados.
Trata-se de um carro que foi submetido a todas as revisões de praxe, indicadas no manual do usuário e com ele andamos um bom tempo em São Paulo e cidades vizinhas.
A impressão estática, externamente quanto ao desgaste de carroceria e pintura, e internamente com revestimentos e partes plásticas em seu conjunto, foi amplamente positiva. Se o hodômetro fosse coberto, dificilmente alguém diria que este carro tem mais que uns 30 mil km rodados.
Quanto à parte mecânica, a impressão também foi positiva. O motor está ainda em bom estado, com respostas prontas à aceleração e sem qualquer ruído estranho. O mesmo vale para o câmbio, de engates precisos e isento de indicações de fadiga de material.
A suspensão desenvolve normalmente seu trabalho, sem barulhos de maior monta (existem os que são normais, sobretudo em ruas esburacadas como as de São Paulo) embora os amortecedores originais não tenham sido trocados e a carroceria não tem rangidos que denotem desgaste de seus componentes. Em suma, o carro, em seu todo, agrada. Claramente um motorista atento irá perceber ruídos
diversos, aqui e acolá, sugerindo que um reaperto geral seria bem-vindo. E, com ele, talvez a necessidade de substituir algumas buchas, mas nada de mais se atentarmos para a quilometragem percorrida.
Alguns itens causaram certa curiosidade, prontamente desfeita. Assim, termos ainda a embreagem original e os amortecedores não terem sido trocados pode, em boa parte, ser explicado pelo fato do veículo ter rodado sobretudo em rodovias asfaltadas. Isto causa menor desgaste dos amortecedores (nas esburacadas ruas de São Paulo certamente não teriam resistido tanto tempo) bem como explica, pelo menor uso, a resistência da embreagem ao natural desgaste. Enquanto os pneus, como é lógico, tiveram que ser substituídos. Mas, no todo, este JAC J3 foi aprovado.