Há quem diga que a campanha da arbitragem de 2015 foi melhor comparada à de 2014. Pode até ser, mas não digo que foi muito.
No ano passado, a Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (Anaf) ameaçou paralisar o Campeonato Brasileiro em protesto contra a falta de respeito ao árbitro. Na opinião da entidade, as críticas e reclamações de jogadores, treinadores e dirigentes visavam esconder a crise técnica do futebol brasileiro, transferindo a culpa do mau futebol à arbitragem.
Uma justificativa que simultaneamente também camuflava a crise que os apitadores viviam na época. Foi justamente quando uma bizarrice proporcionada pela CBF realizou uma interpretação sem nexo da regra do toque de mão na bola. De acordo com a confederação, o ex-árbitro uruguaio Jorge Larrionda, instrutor da Fifa, teria informado aos juízes brasileiros que qualquer toque na mão, intencional ou não, fruto de movimento natural ou não, era pênalti. Esta interpretação, que só existe no Brasil, assola o nosso futebol até os dias de hoje, sendo então o maior filme de terror para os assopradores.
Além disso, outras orientações tomaram grandes proporções no futebol verde-amarelo como o fato de não haver mais conversa entre juiz e jogador. Qualquer coisa era motivo para tirar a tarjeta do bolso. A própria CBF, desde o início do ano, autorizou os árbitros a abusarem da autoridade com o apito. As súmulas publicadas no site oficial da entidade chegavam a ser constrangedoras. O jogador que protestasse com educação seria punido da mesma forma que o outro que machuca o adversário. A regra ficou muito clara: diga não ao diálogo e, para isso, o cartão é o seu maior instrumento.
Árbitros mal orientados são consequentemente mal preparados. Não é à toa que declarações que tinham respeito a um “campeonato manchado” fizeram tanto sentido. Aqui, poderia listar uma série de catástrofes do apito brasileiro como a atuação do quarteto da partida entre Chapecoense e Vasco — que terminou com o placar igualado em 1 a 1 —, pela 30ª rodada, ou até mesmo a pífia atuação de Marielson Alves Silva no empate entre Fluminense e Internacional por 1 a 1, pela 37ª rodada, que num jogo de três pênaltis conseguiu errar em todos os lances. Se eu fosse listar todos as falhas, terminaria apenas em 2016 — sem exagero algum.
Pois bem, gravíssimos erros de arbitragem conseguiram estragar um dos melhores Campeonatos Brasileiros dos últimos anos.
Em meio a crise, apenas um estado pode ficar um pouco mais tranquilo no ano que vem. O Rio Grande do Sul vive o melhor momento dos últimos anos para o próximo estadual. Leandro Vuaden é o árbitro mais experiente, com maior bagagem, com maior número de Gre-Nais e currículo. No entanto, Anderson Daronco, que vivia como afirmação no último ano, já é um árbitro consolidado, o melhor em 2015. Ele apitou 27 partidas, um recorde para a competição nacional, e teve a melhor regularidade. Uma esperança positiva para o apito gaúcho.
Algo que era para ser considerado como uma normalidade acaba ganhando um destaque surpreendente. Essa é a realidade.