A derrota do Brasil frente à Colômbia traz à tona uma grande dúvida : o que está acontecendo com Neymar ?
O garoto simpático e extrovertido que se diverte jogando futebol e que conquistou rapidamente a exigente torcida do Barcelona com suas jogadas de alta categoria, quando tira a camisa do Barça e coloca a do Brasil parece transformar-se. Torna-se um adulto irritadiço, sempre pronto a reclamar do árbitro (algumas vezes, convenhamos, com razão), erra bastante (considerando seu nível de fora-de-série) e muitas vezes pretende resolver sozinho a partida. Enfim, uma transformação desastrosa e desastrada.
Eu tenho duas idéias que se sobrepõem e talvez possam explicar o fenômeno.
A primeira é exclusivamente técnica. No Barça ele tem companheiros de elevadíssimo nível (Messi, Iniesta, Suarez e por aí vai) que lhe permitem jogar de uma forma fácil e objetiva. Na atual seleção brasileira os valores são outros, e então ele tenta a jogada pessoal. Às vezes, como aconteceu contra o Peru, isto dá certo, outras vezes não.
A segunda é mais complexa mas igualmente válida. Na seleção brasileira ele é o capitão e o jogador do qual todos esperam que resolva os problemas que uma partida apresenta. Isto, por si, já é uma enorme carga de responsabilidade para um garoto ainda em formação quanto à sua estrutura psicológica. A esta carga agora se somou o “tsunami” da fraude fiscal, que antes arrastou o presidente do Barcelona Sandro Rosell, obrigando-o a renunciar, depois levou consigo o atual presidente Josep Maria Bartomeu, em seguida atingiu o pai de Neymar. E agora chegou, qual mancha de óleo que se espalha por todo lado, ao próprio Neymar.
Eu acredito que o garoto não estava totalmente ao par das complexas negociações que envolveram sua transferência, mas a Justiça espanhola pensa de outra forma. Entende que um maior de idade deve forçosamente saber o que faz e o que outros fazem por ele. Isto foi recentemente mostrado quando a Infanta Cristina, isto é, a segunda filha do ex-rei Juan Carlos, começou a ser investigada por negócios feitos por seu marido, Iñaki Urdangarin. E a Justiça espanhola entendeu que ela não podia deixar de saber o que o marido estava fazendo, e devia prestar contas ao Fisco.
Ora, se esse é o posicionamento da Justiça espanhola em relação à filha do rei, nada mais lógico que persiga um simples jogador de futebol.
Para quem gosta de literatura inglesa, todo este caso Neymar me lembra o famoso romance de Robert Louis Stevenson, “Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, publicado no longínquo ano de 1886 mas que agora, ao ver Neymar em campo, se torna extremamente atual : Dr. Jekyll no Barcelona (ao menos por ora) e Mr. Hyde na seleção brasileira. Uma pena…
Neymar: Dr. Jekyll ou Mr. Hyde ?
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