“Balança mas não cai” era o título de um antigo programa humorístico de televisão. E, ao mesmo tempo, era o que eu pensava das vicissitudes da FIFA, objeto, através das últimas décadas, de denuncias as mais diversas. Todas elas repelidas com indignação por parte dos dirigentes envolvidos, com seguidas ameaças de processar o autor das denuncias. Ameaças, por sinal, nunca levadas a cabo, pois para os dirigentes era muito melhor fazer esquecer o assunto que discuti-lo num tribunal, onde muita coisa pior poderia vir à tona.
Agora, porém, a casa, de tanto balançar, acabou caindo. Foi necessário que entrasse na jogada o Ministério da Justiça dos Estados Unidos, através de seu “Attorney General” (isto é Ministro da Justiça), Loretta Lynch, recentemente nomeada para o cargo pelo presidente Obama, que levou adiante a parte norte-americana das investigações. E isso não só está derrubando os maiores nomes da FIFA, como poderia levar às prisões norte-americanas vários dirigentes de primeiríssimo nível da entidade esportiva mais importante – e também controvertida – do mundo, a FIFA.
“Temos 47 itens acusatórios em relação a 14 pessoas que estão no cerne de nossa investigação” – afirmou Loretta Lynch e continuou – “trata-se de uma sistemática corrupção que vem sendo perpetrada há 20 anos. Os dirigentes da FIFA envolvidos tinham sido eleitos para proteger a integridade do esporte, mas, pelo contrário, o corromperam em função de interesses pessoais. A partir de 1991, duas gerações de dirigentes, inclusive os então presidentes da Concacaf e Conmebol, abusaram de sua autoridade pedindo e obtendo dinheiro, das firmas de marketing, para vender os direitos de vários torneios futebolísticos. Fizeram isso ano após ano, competição após competição”. São palavras tão claras, que dispensam qualquer outro comentário.
Nesta série de escândalos também o Brasil se faz presente, através José Maria Marin, preso na manhã de 4ª feira no hotel “Baur au lac”, em Zürich, onde está sendo realizada uma reunião da FIFA. Com ele, foram presos, entre outros, Jeffrey Webb (vice-presidente da FIFA e presidente da Concacaf), Eugenio Figueiredo (vice-presidente da FIFA), Eduardo Li (membro do Comité Executivo da FIFA) e Rafael Esquivel (membro do Comité Executivo da Conmebol).
Loretta Lynch pintou um quadro assustador da situação, contando de intromissões ilegais e comissões também ilegais recebidas em relação a uma série de competições que vão da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul à Copa América de 2016 até chegar às controvertidas decisões de disputar as Copas de 2018 na Russia e a de 2022 no Qatar. Além da eleição da FIFA de 2011.
A jurisdição do Governo dos Estados Unidos, de acordo com Loretta Lynch, advém do fato da “Concacaf ter sede em território norte-americano (Miami), além de terem sido usados bancos norte-americanos nas transações e muitos dos investigados terem tomado parte em reuniões nos Estados Unidos para tramar atividades ilegais”. Ainda segundo Loretta Lynch “duas pessoas já declararam-se culpadas e os Estados Unidos solicitaram à Suíça a extradição de mais 9 funcionários da FIFA”.
Em suma, dessa vez parece difícil que os culpados saiam de fininho…