Os lamentáveis acontecimentos ocorridos sábado no CT do Corinthians foram a nota de destaque do fim de semana futebolístico e ensejaram os mais diversos comentários. Em minha opinião, o que está acontecendo no mundo todo (o problema não se restringe apenas ao Brasil) é um desajuste, maior ou menor dependendo dos países, da sociedade, entendida como um todo. E, a partir disso, não se pode exigir que o futebol seja uma ilha de fantasia, onde tudo se passa num mundo ideal.
O que vemos, no caso do futebol, é que aberta a caixa de Pandora os dirigentes tem grandes dificuldades em fechá-la e, após terem usado as torcidas organizadas, ou “ultras”, como se diz na Europa, não mais conseguem controlá-las e muitas vezes delas se tornam reféns.
Isto é apenas o reflexo de uma sociedade onde o indivíduo frequentemente não encontra o lugar desejado e usa o futebol como a válvula de escape para suas frustrações ou para idealizar uma vida diferente. Assim sendo, as medidas tomadas, aqui e acolá, podem ter algum sucesso, como ocorreu com a violência nos estádios ingleses que a primeira-ministra Thatcher conseguiu extirpar. Mas não constituem uma solução permanente e nem mesmo podem ser usadas em países diferentes, pois refletem usos e costumes de sociedades que também diferem entre si. Assim, o que deu certo na Inglaterra e, por exemplo, não precisa ser usado na Suíça ou na Suécia, não pode ser apontado como solução para países latinos.
Em minha opinião, o futebol, no Brasil e em vários outros países, está caminhando para se tornar um gueto onde confluem paixões e ódios, e não oferece solução diversa do uso da força para reprimí-las, embora claramente sem conseguir solucioná-las. Naturalmente, citar o caso da China na organização dos Jogos Olímpicos, por exemplo, para concluir que aqui a democracia fracassou, é no mínimo um exagero… pois nesse caso o remédio pode matar o paciente.