As discussões acerca da Copa, algumas com tons apocalípticos, outras revelando apenas razoável preocupação, mostram bem como o Brasil se prepara para sediar este mundial. E disso não fogem nem mesmo as rusgas entre FIFA e Governo, embora sejam frequentes as chamadas aos bombeiros de plantão para apagar focos de incêndio. Nesse sentido, aliás, devem ser entendidas as declarações de ministros brasileiros, de um lado, e funcionários da FIFA de outro. Em alguns casos conflitantes, como aconteceu com o atraso nas obras da Arena em Curitiba, enquanto em outros, como na recente reunião entre o presidente da Fifa, Blatter, e a presidente do Brasil, Rousseff, se insiste em transmitir uma impressão (claramente falsa) de absoluto e total entendimento.
Para quem, como eu, presenciou ao vivo (não posso dizer em cores pois naquele tempo mal engatinhava a TV em branco-e-preto) o que antecedeu a disputa da Copa de 1950, tudo isso parece apenas e tão somente a re-edição de um filme já visto. Naturalmente uma re-edição ampliada pela atual enorme influência dos meios de comunicação, mas que, no fundo, utiliza argumentos semelhantes. De um lado os profetas do Apocalipse, do outro os que entendem que tudo está maravilhoso.
Poucos se colocam num meio-termo, entendendo que era normal alguns grupos se locupletarem com o dinheiro público e que certas coisas, formalmente prometidas quando o Governo pediu para realizar a Copa, jamais serão realizadas. Pois o meio-termo é algo que não dá manchete, nem fornece publicidade rápida e barata.
Mas o exemplo de 1950 me faz acreditar que, no fim, tudo vai dar certo. Também naquele tempo se dizia que o Maracanã ia cair, construído que foi num lodaçal. E que não havia uma infra-estrutura para receber os turistas que, em grande número, aqui iam aportar. No fim, às vezes aos trancos e barrancos, tudo mais ou menos funcionou. Os turistas não foram tão numerosos como as autoridades esperavam. Os estádios não ficaram totalmente prontos, mas quebraram o galho. No Pacaembu, por exemplo, a tribuna para a imprensa estrangeiras era um miserável galinheiro de madeira construído às pressas sobre a cabine existente na geral. Eu trabalhei lá, mas não morri…minhas matérias para o “Corriere dello Sport” saíram normalmente, com um pouco de atraso, é verdade, mas chegaram em Roma. E todos viveram felizes e contentes, a não ser pela decepção do desfecho futebolístico daquela Copa.
Assim eu tenho certeza que esta Copa de 2014 vai ser um sucesso esportivo, os estádios estarão razoavelmente prontos, a infraestrutura vai quebrar o galho, talvez tenhamos alguns problemas nos aeroportos e nas estradas, mas nada de arrepiar. O Brasil, enfim, tem como costume deixar tudo para a última hora, não seria lógico pretender que, de uma hora para outra, isto virasse uma Suiça…