A Volkswagen lançou este ano mais uma versão do Gol, o chamado Track. E poucas vezes uma montadora acertou tão claramente, quando o objetivo é oferecer um meio de transporte, relativamente barato e adequado a cidades como São Paulo.
Com efeito, este Gol Track andou na contra-mão de tudo o que se tem feito, nas últimas décadas, em tecnologia e adequação de suspensões, incluindo aí rodas e pneus, para ganhar estabilidade e desempenho. Mas, a contrapartida disso tudo, sobretudo com rodas cada vez maiores e pneus de perfil cada vez mais baixo, tem sido carros baixos, adequados a ruas e estradas de asfalto perfeito. Já em cidades como Roma, onde o piso nem sempre é assim, costumam surgir problemas, que fazem os cidadãos reclamarem alto e bom som dos responsáveis municipais. Quando se chega a cidades como São Paulo, onde o descalabro é total e tal que provavelmente no Japão provocaria o haraquiri do responsável, então esses carros sofrem imensamente. E os únicos a tirarem proveito da situação são os fabricantes de peças de reposição, desde rodas até componentes da suspensão, que fazem negócios da China.
A Volkswagen fez então, nesta versão Track, uma “volta ao passado” : rodas de aço de 14 polegadas, calçadas com pneus série 70 de uso misto, e uma suspensão bem mais alta que a versão normal do Gol. Para se ter uma ideia disso, a distância livre ao solo, quando sem carga, é de 163 mm para as versões normais e de 185 mm no Gol Track. Uma diferença visível a olho nu e que se torna ainda mais clara quando passamos por buracos, crateras, lombadas e coisas afins. Aí a muita borracha existente no pneu faz seu trabalho, a maior altura do carro completa o serviço e só raramente precisamos xingar o prefeito da cidade.
Pelo resto, este Gol é o mesmo carro que vem fazendo sucesso desde a década de 80, com seu motor 1.0 (no nosso caso) que fornece 72 cv com gasolina e 76 cv com etanol, a 5.250 rpm, com torque de 9,7 kgfm e 10,6 kgfm, respectivamente, sempre a 3.850 rpm. O que recomenda não ter preguiça na mudança de marchas, usando frequentemente o ótimo câmbio mecânico de 5 marchas, de engates suaves e precisos, para manter sempre o motor na melhor parte da curva de torque. E sua estabilidade é adequada ao que o carro se propõe, ser um veículo de turismo sem maiores pretensões além de levar, com conforto e segurança, seus usuários de um ponto para outro. E fazê-lo com uma boa relação custo-benefício.
Em suma, a Volkswagen “acertou na mosca” para resolver o problema dos que tem a infelicidade de rodar em São Paulo. E isto com um preço possível : são R$ 33.650 para a versão básica, que sobem até R$ 40.333 com todos os opcionais disponíveis. E isto em troca de um carro “clean”, sem inúteis adereços de plástico querendo fazer pensar em versões aventureiras, próprias para fora-de-estrada…