Ao longo do tempo, o motor de 3 cilindros atraiu a atenção dos técnicos por uma série de vantagens em relação ao de 4 cilindros, mas as desvantagens, sobretudo no que se relaciona ao equilíbrio do ciclo de explosões, sempre o condenou. No Brasil esse motor teve sucesso, no início de nossa indústria, com o DKW-Vemag, mas aí tratava-se de um motor de 2 tempos, o que explica o seu lema de propaganda, 3 = 6.
No tradicional motor de 4 tempos, os estudos foram intensificados a partir dos anos 90, quando o 3 cilindros começou a aparecer na Europa e no Japão e aqui até agora estava presente apenas em montadoras oriundas da Ásia, com Hyundai HB 20, Kia Picanto e Nissan March. A esses três, agora junta-se a VW (na Europa tem mais, como o ótimo Ecobost 1.0 da Ford, por exemplo), que passou a fabricar, em São Carlos, o 3 cilindros da família EA211. Trata-se de um motor projetado sob medida para o pequeno Up! da VW e que aqui, ao menos por ora, é usado no Fox BlueMotion.
O carro oferece tudo o que o tradicional Fox já apresentava, somado, porém, a uma maior economia (nossa média, em uso urbano, foi de 12,5 km/litro de gasolina), sem, para isso, penalizar o desempenho. Muito pelo contrário, este 3 cilindros tem maior potência que o 4 cilindros da mesma VW (são 82 cv contra 76 cv da versão 4 cilindros, que continua sendo produzida), mais torque, sobe de rotação mais rapidamente e se torna mais agradável para dirigir.
Cabe então explicar como isso ocorreu. Certamente não foi nenhum milagre, apenas um trabalho bem dirigido que, em extrema síntese, conseguiu reduzir o peso e aumentar a eficiência térmica.
Assim foram adotados cabeçote e bloco em alumínio, o que representa, em relação ao motor de 4 cilindros, uma redução de 24 kg. Além disso tem comando de admissão variável, as válvulas são acionadas por balancins roletados e a tampa do cabeçote tem os eixos de comando e os cames de acionamento integrados, com um design que permitiu a redução do diâmetro dos mancais dos eixos e consequentemente reduziu o atrito. Esses e outros cuidados técnicos, aliás, permitiram à engenharia da VW renunciar ao uso de um contra-eixo, que é a forma mais simples para balancear as explosões de um motor de 3 cilindros mas que traz, para o fabricante do motor, um custo suplementar.
Outra solução interessante é o duplo circuito de arrefecimento, com duas válvulas termostáticas, permitindo temperaturas diferentes para o cabeçote (menores) e para o bloco (maiores). Isto permite ter-se um óleo mais fluido no bloco (e portanto menos atrito entre as peças em movimento) e, com menor temperatura no cabeçote, reduz a possibilidade de detonação.
Naturalmente as novidades não param por aí. Assim as bielas são cerca de 20% mais leves, a ignição atua com uma bobina por cilindro, a direção tem assistência eletro-hidráulica (o que reduz o gasto energético, em relação ao modelo com 4 cilindros que tem assistência só hidráulica, em 3%). Aliás vale ressaltar que este Fox BlueMotion tem uma redução de gasto energético de cerca de 17% em relação ao outro.
Todas estas melhorias permitiram, graças ao aumento de torque e potência, alongar a transmissão e, consequentemente, reduzir o consumo e o nível de ruído.
Para o motorista comum todos esses detalhes podem passar despercebidos, mas ele vai sentir um carro mais “esperto”, que anda mais e gasta menos. O que significa que a VW atingiu o objetivo que se tinha proposto como meta ao lançar, também aqui no Brasil, este motor 1.0 de 3 cilindros.