Ao comentar um GP pela rádio Jovem Pan frequentemente me deparo com a entrada no circuito do safety-car. Novidade introduzida vários anos atrás, copiando o que já se fazia nos Estados Unidos, a pretexto de uma maior segurança para os pilotos.
Eu sempre fui contra, a F1 viveu anos a fio sem esse modismo, e todos os problemas mais graves sempre foram solucionados com a exposição da bandeira vermelha e consequente interrupção do GP. Regra que, em minha opinião, permitia salvaguardar a vantagem eventualmente obtida por um piloto frente a seus adversários. Uma vantagem fruto de maior habilidade, de freadas um pouco além do limite, de tudo, enfim, que pode diferenciar um piloto de outro. E que podia ser mantida pela soma dos tempos verificados até a interrupção com os que seriam registrados após a nova largada.
Poder-se-ia argumentar que esse sistema tornaria de difícil compreensão uma corrida por parte dos espectadores presentes no circuito. Mas como o interesse da atual F1 está inteiramente voltada para os que assistem aos GPs pela televisão, este problema não existe. E aos espectadores in loco, um bom serviço de alto-falantes resolveria o problema.
Contudo, o que me deixa perplexo nesta história do safety-car é a possível distorção de sua utilização em função de interesses outros. Dizem que assim se pode tornar novamente interessante um GP que já tenha quase antecipadamente definido seu vencedor. Pura verdade, mas também absoluta distorção do que ocorreu até aquele momento na pista.
Mas o mais grave, e que me ocorre tão logo veja um safety-car na pista, é a consequência comercial dessa exposição mediática perante dezenas de milhões de tele-espectadores. E mais tempo o safety- car fica na pista (às vezes claramente exagerado) mais aumenta o valor comercial dessa exposição. Já pensaram quanto teria que gastar a Mercedes para fazer um comercial de tantos minutos, ao expor seu carro e sua famosa estrela de 3 pontas perante o mundo todo ? É algo inimaginável…e. no entanto, a duração de tal comercial depende apenas do critério de umas poucas pessoas.
A este respeito, quero contar um caso que vivenciei de perto, em 1970, no México. Lá estava o responsável pelos cartazes de propaganda de uma importante agência internacional, que me convidou a acompanha-lo até o autódromo. Uma vez no circuito, ele examinou com cuidado todos os locais onde estava prevista a instalação dos painéis de publicidade, e escolheu os piores, aqueles em que as câmaras de TV passariam de relance, e olhe lá. À minha expressão de surpresa, ele me respondeu : “esses são os locais mais baratos. Assim eu economizo X milhões de dólares”. Ao que respondi “Sim, nas sua publicidade vai ser vista muito pouco”. E ele explicou “A minha publicidade vai ser a mais vista em todo o GP. Um envelope com Y milhares de dólares na mão do diretor de TV me garante isso”.
Com a entrada do safety-car eu fico em dúvida se a história não é parecida, embora não saiba a quem teria sido entregue o envelope…