A apresentação de Neymar no primeiro jogo da seleção brasileira sob a batuta de Scolari repetiu um figurino já amplamente conhecido: decisivo e fundamental no Santos, apenas um bom jogador na seleção. E, com isso, voltou à tona a discussão sobre a conveniência – ou não – do garoto transferir-se, no meio deste ano, para o futebol europeu, de forma a sentir de perto outros tipos de marcação e a adaptar-se a um estilo de jogo que possa faze-lo render mais.
Em minha opinião, não conhecendo a estrutura psicológica de Neymar e levando apenas em conta sua idade, entendo que o ir agora para o exterior seria trilhar um caminho perigoso. E não posso deixar de lembrar o que aconteceu, em situaçao razoavelmente semelhante, com Robinho. Que aqui era o rei das pedaladas e, como afirma Vanderlei Luxemburgo, no Real Madrid não deu uma sequer, convertendo-se numa promessa que não vingou. Ficou sendo um bom jogador, como provou depois também no Manchester City e no Milan, mas não atingiu o patamar de craque que muitos lhe prognosticavam.
Naturalmente Neymar é diverso de Robinho, mas não sei como seria seu impacto pessoal com uma realidade diferente da que desfruta no Santos, onde pode eventualmente jogar mal e ser sempre desculpado por torcida e críticos, enquanto no exterior todos vão imediatamente lembrar o quanto custou e comparar isso a seu rendimento em campo. E se tiver a infelicidade de encontrar um técnico que não aprecie muito seu futebol (como poderia ser, apenas para dar um exemplo, Mourinho) poderia ter grandes problemas pela frente. Aí não sei se sua estrutura mental teria condições de aguentar o impacto.
Um exemplo do que poderia lhe acontecer, mesmo se for um jogador mentalmente forte, é encontrado em Kaká. No Real Madrid ele foi posto de lado por Mourinho, que aliás tentou facilitar de toda forma sua ida para outro clube, enquanto o jogador, numa expressão bem popular, “comia o pão que o Diabo amassou”. Um pão, é bom lembrar, que no aspecto financeiro é um nectar dos deuses, mas que prejudica visivelmente sua carreira futebolistica. A ponto dele dispor-se a reduzir bastante seu ordenado para poder voltar ao Milan.
Acontecer isso com Neymar, um ano antes da Copa do Mundo, seria realmente uma pena. Uma pena para ele e para a própria seleção brasileira… Assim entendo que não vale a pena correr esse risco.