Após o término do Campeonato Mundial, e em falta de mais notícias, surgiram as tradicionais estatísticas de fim de ano e, com elas, as opiniões dos que entendem ser ele um super-campeão.
Eu não gosto muito de classificar um piloto durante sua carreira, pois o correto, em minha opinião, é analisar o conjunto de seu rendimento, desde o começo até o momento em que se retira das pistas. Aí pode-se ter, sem muito receio de errar, o conjunto da obra esportiva de um campeão, analisar suas virtudes, seus feitos, seus erros (afinal de contas ninguém, neste mundo, é perfeito) e coloca-lo na posição que cada crítico possa julgar merecida.
Que Vettel seja um recordista quanto à idade é um fato, e como tal não pode ser discutido. Mais jovem piloto a ganhar um GP, mais jovem tri-campeão da história (em meu entendimento da língua portuguesa tri-campeão é quem venceu um título por três vezes seguidas, e não alternadas) e uma série de outros recordes que seria demasiadamente longo enumerar. Pode-se mesmo rotula-lo de “menino prodígio” e não estaremos cometendo um erro crasso.
Daí, porém, a leva-lo à condição de super-campeão existe um passo que me recuso – ao menos por enquanto – a dar. E quero aproveitar para explicar melhor meu pensamento em relação ao valor das estatísticas.
Elas são importantes, fotografam um momento e uma realidade, mas não podem ser usadas como único parâmetro de julgamento. Caso contrário,apenas para citar um exemplo que os mais velhos certamente lembrarão, o neo-zelandês Chris Amon deveria ser considerado um piloto medíocre. Pois em 99 GPs disputados, entre 1963 e 1976, conseguiu apenas 3 segundos lugares (1968 no GP da Grã Bretanha e 1970 nos GPs da Bélgica e da França) e um 4º lugar no Campeonato Mundial de 1967.
Não obstante isso, os maiores críticos da Formula 1 o consideram um piloto excelente, colocando-o entre os grandes de todos os tempos. E, apenas para citar um nome, um deles era Enzo Ferrari, que o teve em sua equipe em 1967, 68 e 69. Mas Amon esteve sempre na hora errada na equipe errada, além de contar com uma colossal falta de sorte.
Ainda respeito do valor das estatísticas, quero lembrar uma historinha que circulava no meu tempo de faculdade. Dizia-se que se dois amigos fossem a um restaurante, um deles comesse um frango e o outro ficasse apenas assistindo, pela estatística cada qual teria comido meio frango!
Assim, sem tirar nada dos méritos de Vettel, coloca-lo hoje no mesmo nível de Ayton Senna, para dar um exemplo ainda vivo na memória de muita gente, é, como mínimo, um exagero. Um exagero que até mesmo poderá deixar de sê-lo ao final de sua carreira. Mas hoje é um exagero.